domingo, 9 de setembro de 2012

CELEBRAÇÃO EM JEREMOABO


Cheguei à cidade perto do meio-dia. Jeremoabo parecia ainda não ter despertado. Tudo estava calmo e quieto. Intenso, mesmo, somente o sol que queimava, impiedosamente. Mesmo assim, caminhei pelas ruas para ver se encontrava viv’alma! Parecia que todos tinham deixado a cidade. Fazia tempo que não ouvia um silêncio tão grande quanto aquele, que só era interrompido pelos passarinhos, já (ou ainda) empoleirados nas várias árvores que se espalham pelas ruas da cidade. Seria por causa do sol forte?

Mais tarde, nuvens trouxeram a sombra e, de repente, um som rasgado de moto anunciou o que viria. Era a entrega de uma gravata vermelha a um garoto vestido de branco, numa porta que se abriu. Na frente de outra casa, um cavalo tomava banho de xampu, enquanto outros eram escovados e adornados. Na rua principal, há pouco deserta, mulheres com vassouras de palha, retiravam, apressadamente, folhas e gravetos, enquanto um palanque ia ficando pronto na frente da prefeitura. Parecia (e era) um grande trabalho em equipe!

A cidade parecia voltar à vida. De vários pontos começaram a surgir duplas, trios, bandos de personagens e heróis, a pé, de bicicleta, a cavalo, mais carrinhos de pipoca, de picolé, de algodão-doce, enquanto a voz possante de um locutor, num carro de som, contava a História. Mais portas se abriam e delas saíam senhoras carregando cadeiras, para assistir a tudo sentadas. De um lado e de outro os olhos brilhavam.

Fazia tempo que não via algo assim, preparado com tanta paixão e por tanta gente, pois era 7 de setembro.

Do nada, de repente, tudo se fez! E a rua se encheu de gente, de alegria e de muita expectativa. Um clarim anunciou e um estampido ecoou: bumbos, pratos, cornetas e caixas de repique, numa cadência impressionante, fez tudo vibrar. Das crianças os pés obedeciam ao compasso, enquanto seus olhinhos se perdiam em meio a tanto o que se ver. A História começava a passar por elas, marchando, dançando, representando e reconstituindo o que fomos, o que somos e o que seremos. Nos carros alegóricos os estudantes eram Soldados, Zumbi, Joana Angélica, Tiradentes, D. Pedro, Negros, Índios, Trabalhadores... No chão os pés socavam as pedras, sob o comando de maestros e maestrinas.

Não pude deixar de notar o quanto ainda refletimos o longo tempo que passamos sob a ditadura militar, mas percebi, também, o desejo de celebrar de outros modos. Nada contra a disciplina rígida, aliás, cada vez mais necessária na educação dos nossos jovens, mas que Deus nos livre dos grilhões! Na verdade, o brilho da festa foi muito mais intenso. Parabéns, Jeremoabo! Parabéns aos alunos e a seus professores!
Creiamos que somos livres!

Geraldo Seara.

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